Alterações na linguagem da nossa legislação - Desabafo pessoal

13 de Outubro de 2009 às 21:43 por Maria Proiete

Não costumo fazer desabafos pessoais, mas confesso que estas alterações de linguagem estão a tocar nos meus nervos mais sensíveis, porque é um desrespeito pelos profissionais da área (e às vezes até pelo Português, quando se inventam palavras inexistentes no vocabulário). E é um jogo de dominó, porque a partir do momento em que se altera a linguagem num código, todos os restantes têm que ser adaptados, para a linguagem ser homogénea.

A nossa memória tem representação visual e linguística, quando se ouve uma palavra, por exemplo "cadeira" temos uma imagem do objecto em si (4 pernas, uma base para sentar e um encosto) e da sua forma escrita C-A-D-E-I-R-A. Como o inverso, ao ler identificamos a imagem do objecto e do som do nome C-A-D-E-I-R-A. Esta nossa maneira de "arrumar" a informação auxilia- -nos a interpretar correctamente um texto. Ao alterarem tantas palavras na nossa legislação, em tão pouco tempo, dificulta a compreensão dos profissionais da área, sejam advogados, solicitadores, contabilistas, auditores, de recursos humanos, etc., pois "cortam" os elos de memória que tínhamos feito para aquelas palavras com o respectivo significado.

E se alguém se lembrar de alterar de repente todos os nomes das doenças? Como fariam os nossos médicos os diagnósticos? Quantas trocas haveria?... Ah, é verdade os nomes das doenças não são legislados, estão em compêndios escritos por profissionais, que antes de começarem a escrever sobre o assunto, tiveram que aprender primeiro o significado das palavras que vão escrever. Ufa, do que nos livramos! Se não quem nos trataria depois???

Seria bom se a nossa memória fosse como um PC, que podemos formatar e começar de novo, mas não é, o que já está registado fica e tem que ser substituído com um novo mapeamento.

Antes de destruirmos algo que já existe, dever-se-ia ponderar nas implicações dessa mudança, e sobretudo se ela é efectivamente necessária e se faz sentido.

Por exemplo a palavra salário, vem do latim salarìu que significa "soldo para comprar sal". É uma palavra com raízes históricas. Se consultarmos um dicionário a definição que aparece é: remuneração do trabalho de um empregado; ordenado; vencimento, paga por serviços prestados. Não há qualquer dúvida, qualquer que seja o sinónimo ou explicação, "aponta" para o mesmo significado.

Agora se formos analisar a palavra retribuição, é efectivamente um sinónimo de salário, mas é também sinónimo de muitas outras palavras, tornando-se uma palavra vaga e difusa, o contrário do que um termo técnico deveria ser. A sua definição no dicionário: acto ou efeito de retribuir; remuneração em troca de um trabalho; salário; honorários; gratificação; recompensa; compensação; reconhecimento e agradecimento de favor ou atenção; correspondência de um sentimento.

Isto para não falar em palavras que não existem no nosso vocabulário, como "parentalidade"... sei onde foram buscar a ideia, à palavra inglesa parenthood, e até compreendo e aceito que a língua inglesa conseguem concentrar muito melhor os termos numa só palavra e que a nossa língua está sujeita a influências e evoluí, por isso consegui "encaixar" esta palavra... mas para a palavra "desreconhecimento", por mais boa vontade que tenha não encaixa no meu cérebro e cada vez que a leio e oiço fico com a pele eriçada.

Desculpem este artigo, mas tinha mesmo que desabafar!!!!