Até um dia...

11 de Junho de 2013 às 01:39 por Maria Proiete

Alguns leitores deste blog têm-me questionado porque é que não tenho escrito novos artigos, modificado e adaptado antigos ficheiros - por exemplo o processamento de salários - às novas realidades, enfim, qual é a razão deste meu silêncio prolongado. Devo efectivamente uma explicação a todos os que me seguem...

Antes de mais um enquadramento da minha situação: Qualquer pessoa que seja amiga de um TOC já sabe o quão flagelada tem sido esta nossa profissão, sempre com mais exigências fiscais e parafiscais, com constantes alterações de legislação, com prazos apertados para cumprir, muitos deveres e praticamente nenhuns direitos. O descontentamento é geral e, apesar de não fazermos greve e na generalidade cumprirmos com as nossas obrigações, os constantes erros da Administração Tributária e todas as alterações da legislação fiscais e laboral, deixa-nos os nervos à flor da pele. Eu há muito tempo que já não gostava do que fazia e tentava buscar satisfação em outras áreas (com a formação, consultoria em Excel e Access, etc.).

Juntando a tudo isso a uma crise económica que teima em não passar, por mais sacríficios que sejam feitos, a sermos aconselhados a emigrar pelo nosso PM e a quererem-nos até roubar a língua que sempre utilizámos e a impingirem-nos um acordo ortográfico que mais ninguém quer adoptar, e eis que temos um caldeirão explosivo de emoções e ressentimentos.

O povo diz: "Quem está mal, muda-se" e eu, apesar de gostar de reclamar (como qualquer Português) também gosto de agir e, se estou mal, efectivamente, mais cedo ou mais tarde, mudo-me.

Não vos iludo, decidir começar de novo aos 40 anos, é assustador e passam-nos pela frente dos olhos todas as hipóteses de insucesso. Escolhi a palavra decidir porque implica uma acção voluntária e consciente, ao contrário do que nos acontece quando um azar nos bate à porta e temos que nos adaptar e reagir. Decidir implica que somos responsáveis pelo nosso destino e se algo de errado acontecer, o único dedo a apontar é a nós mesmos. É quase paralisante de tanto medo que se sente.

No entanto, algo me assustava ainda mais: Era ter que trabalhar até aos 67 anos (se não mais ainda, porque a idade da reforma só tende em aumentar), isto é, durante mais 27 anos, nas condições que anteriormente descrevi. Sabia que não iria aguentar, pelo menos não com saúde mental... E se estivermos infelizes e revoltados profissionalmente, mesmo quando estamos num país tão bonito como Portugal, próximos dos nossos familiares e amigos, não conseguimos estar bem.

No final do ano passado o meu marido teve um convite para sair de Portugal e tomámos então a decisão de arriscarmos e tentarmos. Para ele seria uma oportunidade de evolução na carreira. Para mim seria começar de novo, uma vez que a profissão de TOC não é reconhecida internacionamente. Analisámos os pós e os contras e decidimos partir em mais uma aventura.

Entre toda a logística que envolve ir para o outro lado do Atlântico, instalarmo-nos e adaptarmo-nos a um novo país, a outra língua, costumes e hábitos, o pouco tempo que sobrava para estar no computador em casa era para ir ao Skype falar com os familiares e amigos, ou partilhar as novas experiências e fotos no Facebook (enfim, matar saudades!!!)... E a adicionar a tudo isso a preparação para os meus primeiros exames para obter a qualificação internacional como ACCA (the Association of Chartered Certified Accountants), que termiraram a semana passada e este post foi sendo adiado, até hoje...

Por tudo o que expliquei em cima, desde o inicio deste ano, deixei de me actualizar sobre a legislação fiscal e laboral Portuguesa e por isso, pelo menos enquanto não voltar para Portugal, não irei escrever mais artigos neste blog ou mexer nos antigos ficheiros de Excel... Certamente que compreenderão que os meus parcos recursos - tempo e memória - terão que ser agora investidos em adquirir outros conhecimentos que necessito para exercer a profissão onde estou (nas Bermudas) e dominar o idioma Inglês. Ainda ponderei em apagar este blog, uma vez que não o iria actualizar nos próximos anos, mas decidi deixá-lo online, porque ainda poderá ser útil a alguém os artigos anteriores. Não terá porém mais nenhuma assistência ou actualização.

Para os meus colegas contabilistas que estejam interessados numa carreira internacional e em obter informação sobre a qualificação de ACCA, em breve colocarei um link para um artigo que vou escrever com todos os passos necessários.

Resta-me agradecer a todos os que têm acompanhado este blog.

Muito obrigada!

Até um dia...